sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Natal de fundo de gaveta

Passos apressados como se o tempo dirigisse a sua vida. Olhar decidido, colado na montra de cada loja sem sequer reparar nas pessoas com quem se cruzam. O acumulado de sacos que carregam não deixa dúvidas… são os “consumidores natalícios”.

O Natal, no fundo, resume-se a uma época de consumismo. Todos temos consciência que a figura do velhinho simpático, vestido de vermelho é apenas o retrato animado do mais terrível e desumano dos vendedores que a coca-cola alguma vez lançou. Os portugueses gastam o que têm e, muitas vezes, o que não têm e, claro, entram no novo ano “de tanga”. Obviamente, a culpa é do Governo que aumenta os impostos e nunca dos caprichos dos portugueses que, durante quase um mês, esgotam os stocks das lojas para que até o gato e o periquito tenham a melhor prenda.

Pobres dos portugueses. Vivem num mundo de fantasia, no qual Sócrates é a bruxa má e o povo a Bela Adormecida que espera pelo príncipe que a vai acordar do seu “sonho” profundo.

No Natal esquecem-se das dívidas e apenas se preocupam em oferecer o melhor presente, que no fundo, não podem comprar, sem sequer pensar que podiam ajudar aqueles que realmente precisam. Os sem-abrigo assistem a todo este ambiente festivo e, no seu pedaço de calçada, pedem mais uns cêntimos para poderem comprar a próxima refeição. A sua existência passa completamente despercebida aos “consumidores natalícios”. Afinal, o Natal é tempo de amor e paz. Devemos deixar de lado os problemas, as preocupações e os pensamentos negativos. Ah, também é tempo de prendas, muitas prendas. São elas que tornam o Natal uma época tão especial. Rever a família, dar o braço a quem só precisa da nossa mão não é importante quando se tem o Pai-Natal como herói. Ele é amigo das crianças. Não deixa nenhuma criança do mundo sem comida, mas pode deixá-la sem a próxima refeição.

O Natal desperta vários fantasmas: o da solidão, dos sem-abrigo, dos doentes nos hospitais, dos idosos nos lares, crianças nos orfanatos. Contudo, o que mais me inquieta no Natal não é a hipocrisia que acompanha a época, ou a fome que contrasta com a aparente abundância. O que realmente me aborrece no Natal é a falta de espaço, é que já não tenho mais gavetas para guardar os milhões de pares de meias e cuecas que ao longo dos anos me têm vindo a oferecer...

1 comentário:

Mel disse...

K merda e eu k tava a pensar em oferecer-t um par de meias este Natal...
:p
Luv U